As Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANCs) são uma alternativa excelente para promover a variabilidade alimentar. Muitas vezes desprezadas e consideradas ervas daninhas, essas espécies apresentam riquíssimo valor nutricional, são resistentes a pragas e doenças, e muito fáceis de cultivar em casa. Seu consumo ainda contribui para uma agricultura mais sustentável, ao valorizar o cultivo sazonal, regional e apoiar o produtor local.
Mas sair colhendo e consumindo PANCs pelo caminho exige cuidado. O seu cultivo e a seleção devem ser feitos por pessoas que entendam sobre o assunto, priorizando o bem-estar e a saúde. Pensando nisso, recentemente, a WWF-Brasil em conjunto com a Turma da Mônica desenvolveu uma cartilha para disseminar este conhecimento para as famílias e ensinar receitas.
Abaixo, reunimos as principais características de seis PANCs disponíveis em diferentes regiões do Brasil, dicas de cultivo e seu emprego na gastronomia!
Maracujá-pérola-do-cerrado
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O maracujá-pérola-do-cerrado possui casca mais esverdeada que o tradicional — Foto: Paulo Pedro P. R. Costa / Flickr / Creative Commons
Características: o maracujá-pérola-do-cerrado foi obtido pela Embrapa Cerrados, em Planaltina, Distrito Federal, a partir do processo de seleção de Passiflora setacea de diferentes origens. Os frutos, quando maduros, variam do verde-claro ao amarelo-claro. A espécie é arbustiva e pode ser empregada no paisagismo.
Gastronomia: a polpa apresenta um sabor característico delicado que, segundo a WWF-Brasil, está entre o maracujá azedo e o doce. É ótima fonte de fibras solúveis, proteínas e minerais importantes para a saúde, como magnésio, ferro, fósforo e zinco. Pode ser consumida fresca, de colher, ou usada no preparo de pratos doces e salgados, especialmente sucos e geleias.
Cultivo: por se tratar de um maracujá silvestre, é muito tolerante a pragas e doenças. Segundo a engenheira-agrônoma Fabiana Froés, especialista em agricultura orgânica, a planta necessita de solo profundo, bem drenado e corrigido com calcário. “A espécie precisa de bastante irrigação e não se adapta a regiões com geadas ou solos com encharcamento”, afirma.
Cará-do-ar (ou cará-moela)
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O cará-do-ar é uma espécie trepadeira com frutos semelhantes à batata e ao cará-da-terra — Foto: Brasil da Gente / Flickr / Creative Commons
Características: nativa da África e da Ásia tropical, o cará-do-ar se assemelha a um inhame, com interior arroxeado ou amarelado. O nome popular deve-se à característica de nascer em uma espécie de trepadeira, preso em árvores e com as raízes soltas no ar.
Gastronomia: mistura a crocância e a coloração da batata com a cremosidade e os benefícios do cará-da-terra. Pode ser consumido frito ou assado, em purês, ensopados, farinhas, pães, bolos ou como acompanhamento de carnes. “Suas inflorescências também podem ser consumidas cozidas como verdura, picles, farofa ou utilizada como decoração dos pratos”, sugere Fabiana.
Cultivo: trata-se de uma planta rústica, pouco exigente, mas recomenda-se fazer duas adubações de cobertura, uma com matéria orgânica e outra com nitrogênio e potássio. “A melhor época para o cultivo desta PANC é no início do período chuvoso, por meio da abertura de uma cova de tamanho médio em qualquer tipo de solo”, afirma Fabiana. Não é uma planta exigente em irrigação. Os frutos amadurecem em oito meses, sendo recomendado recolher apenas quando cair no solo.
Peixinho-da-horta
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As folhas do peixinho-da-horta são aveludadas e podem ser preparadas à milanesa — Foto: Dicentra spectabilis / Flickr / Creative Commons
Características: nativo da região da Armênia, Turquia e Irã, o peixinho-da-horta foi trazido por colonizadores europeus e se adaptou bem ao sul e sudeste brasileiros. “Suas folhas são aveludadas, peludas e possuem um toque interessante, permitindo que o peixinho seja utilizado também como planta ornamental”, afirma Abílio Vinícius Barbosa Pereira, analista de conservação do WWF-Brasil.
Gastronomia: quando empanado, o peixinho-da-horta apresenta um sabor semelhante ao peixe frito. É um alimento rico em minerais, com teores significativos de potássio, cálcio e ferro, e uma ótima fonte de fibras. Após a colheita, a lavagem deve ser bem criteriosa, devido às folhas serem pilosas e segurarem a sujeira. O mais comum é prepará-lo à milanesa, mas também é possível levá-lo ao forno, ou rechear tortas, omeletes e pizzas.
Cultivo: o peixinho-da-horta aprecia luminosidade abundante, mas detesta calor. Por este motivo, o ideal é cultivá-lo à meia sombra. “Precisa de solo rico em matéria orgânica, bem drenado e só deve ser colhido quando estiver com cerca de 10 ou 15 cm de altura”, aconselha Fabiana. A irrigação deve ser feita de duas a três vezes na semana.
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Salada de PANCs com peixinho da horta empanado em farinha de rosca — Foto: Divulgação
Caruru
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O caruru ou bredo é uma espécie do gênero Amaranthus, com folhas comestíveis — Foto: Sebastiao Pereira-Nunes / Flickr / Creative Commons
Características: com origem na América do Sul e Central, o caruru está em todas as regiões do Brasil, mas sua presença é mais notória no Nordeste, especialmente, na Bahia. As inflorescências têm formato de espigas cilíndricas e longas e a espécie pode atingir entre 30 e 40 cm de altura.
Gastronomia: as folhas possuem sabor semelhante ao espinafre e devem ser consumidas exclusivamente após o cozimento. A verdura pode ser usada para rechear tortas, quiches, pastéis ou compor sopas e moquecas. As sementes podem ser consumidas tostadas para dar crocância ao prato. Fabiana recomenda evitar o consumo das espécies vermelhas e com espinhos aparentes.
Cultivo: é facilmente reproduzido a partir de sementes e se dissemina facilmente, sem grandes cuidados, o que lhe rendeu a fama de espécie invasora.
Capuchinha
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A capuchinha é uma planta de fácil cultivo, com lindas flores, que podem ter cores vermelhas, alaranjadas, brancas ou amarelas — Foto: manuel m. v / Flickr / Creative Commons
Características: nativa das regiões do México e Peru, a capuchinha possui folhas arredondadas com coloração verde-azulada e flores vistosas e afuniladas, em diversas cores. O formato das flores lembra um capucho (chapéu em bico), o que lhe confere seu nome popular mais usual. No paisagismo, pode ser cultivada como uma planta de forração.
Gastronomia: seu sabor é similar ao agrião, pungente e levemente picante. Trata-se de uma planta aproveitada, praticamente, na íntegra. As folhas costumam ser empregadas em saladas, patês e refogados, enquanto os frutos no preparo de picles, e as flores para decorar pratos.
Cultivo: a planta se reproduz por meio de sementes, divisão de touceiras ou estaquia. Segundo a engenheira-agrônoma, o plantio pode ser feito em qualquer época do ano, porém, durante a primavera, a capuchinha se amadurece com maior rapidez. “A planta se desenvolve em diferentes tipos de solo, mas prefere os bem drenados, profundos e ricos em nutrientes, com matéria orgânica. Já a irrigação deve ser bem espaçada”, ensina.
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Charutos de capuchinha com ricota aromática — Foto: Divulgação
Ora-pro-nóbis
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A ora-pro-nóbis, ou Pereskia aculeata, é uma cactácea folhosa, encontrada em muitas regiões no Brasil — Foto: Pexels / ashitaka-f / CreativeCommons
Características: nativo da flora brasileira, o ora-pro-nóbis pertence à família Cactaceae e possui folhas verde olivas bem carnudas e suculentas. As flores, em geral, são brancas com miolos amarelos alaranjados. Comporta-se como uma trepadeira, com espinhos, configurando uma excelente cobertura para pergolados.
Gastronomia: muito usado na culinária mineira, o ora-pro-nóbis pode ser comparado à couve-manteiga, com uma textura viscosa. Os brotos e as flores também são comestíveis. Pode ser aplicado no preparo de sucos verdes, refogados, saladas, sopas, recheios de tortas, omeletes, pães e bolos.
Cultivo: fácil de cuidar, pode ser cultivado em ambientes de pleno sol ou meia-sombra. “O ideal é que o local pegue pelo menos de 3 a 4 horas de sol por dia. O solo não deve ser encharcado, pois a espécie prefere mais seco”, afirma Fabiana. As podas devem ser feitas a cada três meses nas épocas chuvosas e a cada quatro na seca.
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Frango com ora-pro-nóbis elaborada pela chef e influencer Izabela Dolabela — Foto: Pedro Henrique Soares / Divulgação