O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) define como conhecimento tradicional o conjunto de informações de povos indígenas adquirido por meio de sua vivência junto à natureza, da observação e da experimentação. Um exemplo é a capacidade desses povos de diferenciar plantas nativas que servem como alimento daquelas que curam doenças.
Passado de geração em geração, este conhecimento teve um grande peso na medicina ocidental, que utiliza muitas dessas espécies para o desenvolvimento de remédios na indústria farmacêutica. A seguir, confira nove plantas medicinais comuns na cultura indígena e suas propriedades para promover a saúde e o bem-estar!
1. Aroeira-vermelha
A aroeira é conhecida por seu potencial anti-inflamatório, utilizada por diferentes povos como cicatrizante e no tratamento de tendões e artrites. No Brasil, os pequenos frutos da aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius) são consumidos pelas tribos indígenas da Amazônia para combater infecções letais. Recentemente, cientistas da Emory University, em Atlanta (Estados Unidos), constataram que ele de fato possui substâncias capazes de interromper a multiplicação de superbactérias.
2. Arruda
Na medicina antiga, a arruda (Ruta graveolens) era utilizada como estimulante, antiespasmódico e diurético. “Por mais que muitos ainda utilizem a arruda para chás, é preciso tomar cuidado, pois, em alguns casos, ela pode ser tóxica. Mulheres grávidas não devem ingerir de forma alguma”, aponta a paisagista Marina Vidal, do Sapucaia Paisagismo.
Hoje, é mais comum o uso externo da arruda, por meio de óleos essenciais, benzimentos, pomadas e loções para aliviar dores musculares, contusões e picadas de inseto.
3. Assa-peixe
A assa-peixe (Vernonia polysphaera) é uma espécie nativa do Brasil e, hoje, integra a lista de 71 plantas medicinais recomendadas pelo Ministério da Saúde. Rica em sais minerais, possui efeito diurético, contém ação balsâmica e expectorante.
Segundo a engenheira ambiental e paisagista Tatiana Ferreira, da Plantae Paisagismo, a folha da assa-peixe ajuda a combater as afecções da pele, bronquite, cálculos renais, dores musculares, gripes, pneumonia, retenção de líquidos e até tosse, além de ser um analgésico natural.
4. Boldo
O boldo original (Peumus boldus) já era utilizado pelos povos indígenas dos Andes Chilenos muito antes de ser “descoberto” pelo botânico espanhol D. Boldo, séculos atrás. É uma planta popularmente conhecida por seus efeitos benéficos no tratamento do fígado, da digestão e da ressaca alcoólica. Suas folhas frescas podem ser consumidas na forma de chá.
5. Fáfia
A fáfia (Pfaffia glomerata) apresenta um longo histórico entre a população indígena amazônica, com registros de seu uso há mais de 300 anos. De acordo com o jardineiro Carlos Bruno, a espécie agrega muitos benefícios medicinais, como imunoestimulante, calmantes, tônicos e até no tratamento de úlceras. “Ela também ajuda a controlar o colesterol e suas folhas são usadas para baixar febre e como analgésico”, declara.
6. Gengibre
Durante as Grandes Navegações, o gengibre foi trazido e difundido pelas Américas. Tanto é que muitos acreditam se tratar de uma planta nativa, batizada pelos indígenas de mangaratiá ou mangarataia.
É uma espécie conhecida por fortalecer a imunidade, tratar inflamações e problemas gástricos. “Por ser rico em antioxidantes, atua na modulação da inflamação. Cólica, náuseas, vômitos e refluxos gástricos também são aliviados com seu consumo”, afirma a nutricionista Daniela Carvalho, da Clínica Conde.
7. Guiné
Apropriada pela medicina tradicional, a guiné (Petiveria-alliacea) é uma planta muito valorizada pelos povos indígenas da América do Sul e do Caribe por suas diversas propriedades medicinais, incluindo ações antibacterianas, antifúngicas, anti-inflamatórias e antioxidantes. Além disso, é incorporada em rituais e cerimônias para afastar maus espíritos e proteger o ambiente.
8. Ipê-roxo
Pouco difundido, o consumo de chá da casca interna do ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus) integra a cultura indígena. “Da casca é extraída a substância de uso medicinal, antineoplásica, antimicrobiana e anti-inflamatória, usada no tratamento de inflamações, infecções de pele e mucosas, além de ser indicada como cicatrizante e analgésico”, relata o paisagista Marlon Lima. Contudo, o consumo em excesso pode ser tóxico ao organismo.
9. Sálvia-branca
A sálvia-branca (Salvia apiana), também conhecida como sálvia sagrada, desempenha um papel importante nas práticas espirituais de várias culturas indígenas. “Antigamente, acreditava-se que sua fumaça tinha propriedades purificadoras e ajudava a afastar energias negativas e maus espíritos em rituais”, conta a arquiteta Kelly Curcialeiro, especialista em Arquitetura Energética e Terapia de Ambientes. Na medicina tradicional, é empregada no tratamento de doenças respiratórias, sintomas de resfriados, problemas digestivos e dores de cabeça.