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Cleber Marques e a paixão por revistas de games; Entrevista

Escrito por   em 21/06/2024

Aqui no portal do Jogos de Fluxo nós já conversamos com o Tiozão e Gilão, mas ainda faltava um pilar essencial para a existência da Retrocon, a principal feira de retrogames do país: o ilustríssimo Cleber Marquestambém responsável pela Warpzone.

Cleber Marques é um dos colecionadores mais notáveis do paíse se especializou em montar uma coleção invejável de revistas de videogame e gibis. Unindo o útil ao agradável, atualmente ele está conduzindo uma campanha de financimento coletivo no Catarse para um projeto fora de série: Revistas de Videogame — Guia Essencial.

Aproveitando o gancho, chamamos o Cleber Marques para um papo bem animado e informativo sobre essa grande paixão que é o colecionismo de videogames e a preservação da nossa rica história. Confira a seguir!

revistas de videogame do brasil

Imagem: Cleber Marques

Entrevista com Cleber Marques da Warpzone e Retrocon

Flow Games: Há anos você faz um trabalho incrível divulgando obras e profissionais da história brasileira de videogames com a Warpzone e seus projetos. Como você enxerga essa jornada?

Cleber Marques: “Quando a gente fala em Warpzone, principalmente, gosto de usar um termo que é o seguinte: a Warpzone faz jornalismo arqueológico.

Eu gosto muito desse termo! Não vou falar que eu criei ele, mas gosto muito de usar porque a história está lá e ninguém está a contando. Então o que a gente faz é que a gente vai atrás. Procuramos pessoas que não tinham rosto e nem nome para entrevistar.

Nos nossos livros a gente escreveu a história da SNK no Brasil, por exemplo, e ninguém sabia os nomes dos sócios até então. No nosso livro tem os nomes, tem foto, tem foto da fachada da empresa nos anos 1990, e isso é arqueologia pura.

revistas de videogame do brasil

Imagem: Cleber Marques

No livro dos clones, que foi o nosso lançamento mais recente, a gente falou com ex-diretores, engenheiros… eu queria falar com um ex-diretor da CCE, mas o criador da CCE infelizmente já morreu. Então eu queria falar com um diretor de produção sobre Turbo Game, Top Game e tal, mas infelizmente ele faleceu também.

Só que nós encontramos a filha dele! Aí fomos lá, trocamos ideia, ela foi contando sobre como o pai levava videogames em quase quando ela era criança, e tudo isso foi para o livro. E isso para mim é arqueologia pura, tem bastante furo de reportagem ali.

Mostramos pela primeira vez o Super Dynavision, clone de Super Nintendo que foi cancelado. O mundo não sabia disso, é coisa que a gente revelou no livro.

revista warpzone

Imagem: Cleber Marques

Desde a pandemias, especialmente, colecionar coisas de retrogaming, sejam jogos ou revistas, ficou muito caro. Como você construiu a sua coleção?

Cleber Marques: “As coisas que eu tenho na minha coleção hoje são coisas que, na maior parte, consegui nos anos 1990 e início dos 2000. Se fosse comprar hoje… Olha, coleciono muito jogo nacional, de nintendinho, daqueles não licenciados, da CCE, essas coisas, Dynacom.

Hoje em dia, dependendo do jogo, pegar na caixinha, completo, com manual, você vai pagar uns R$ 700. Se eu não tivesse comprado na época, hoje eu não teria, porque é um preço absurdo.

Nos anos 1990 você ia na feira do rolo e era R$ 5 por um cartucho. Quando ninguém queria, eu ia lá e comprava. Meu pai frequentava a feira do rolo porque ele era ambulante. Sempre tem um cara com a banquinha do Paraguai, né? E esse cara era o meu pai. No sábado ele sempre ia na feira do rolo, então anos 1990 inteiro, praticamente todo sábado eu estava lá com ele.

Na época todo mundo queria fita de Super Nintendo e Megadrive, ninguém queria mais saber de Nintendinho. E aí depois todo mundo queria PS1, Dreamcast, e ninguém queria mais SNES. Então eu sempre ia comprando barato da geração anterior.

Hoje de cartucho eu devo ter quase uns 800. Boa parte da coleção, pelo menos um terço, tem selinho de locadora porque eu comprei a preço de banana.

Acontecia também de ter locadora de DVD e VHS se desfazendo de fitas, tipo ‘leva essas fitas todas a R$100’. Era umas 50 fitas por cenzão, pra limpar o balcão do cara.

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Imagem: Cleber Marques

Mas nessas de montar coleção você já deve ter cometido umas loucuras também, né?

Cleber Marques: “Eu fiz uma odisseia uma vez… porque todo ano eu ia aos EUA ao menos uma vez, por 10 anos seguidos fui, na época em que eu trabalhava na Microsoft. Isso foi em 2009, quando comecei com a ideia de colecionar a Nintendo Power inteira. Eu já tinha todas as revistas nacionais, aí você sabe, colecionador é aquilo, acabou uma e você já pensa na próxima.

Aí decidi que ia colecionar a Nintendo Power. Fui comprando as edições e entregando tudo na casa de um amigo. Eu comprava, fazia uma planilha organizando qual é repetida, qual não é, e fomos entregando tudo na casa dele. Só que tem edições grossonas ao estilo EGM. Eu completei a coleção em uns 2 anos, foram 232 edições normais e 50 especiais.

Mas teve uma hora que meu amigo falou ‘olha, eu preciso mandar isso urgente pro Brasil, não tenho mais espaço aqui!’. Era uma quantidade tão grande que não dava para enviar como pessoa física, então quem ajudou foi outro amigo meu: a mãe dele tinha uma empresa nos EUA para fabricar memória de notebook, e ele falou o seguinte:

nintendo power coleção completa

Imagem: Cleber Marques

‘Paga a transportadora da minha mãe, aí eles mandam aqui pro Brasil como uma remessa de pessoa jurídica para física’. E isso sai caro, mano! Foi em 2011 para 2012, e só de frete eu paguei quase R$ 5.000.

Chegou no Brasil, é verdade que papel não leva imposto nem nada, mas a Polícia Federal reteu mesmo assim, falaram ‘Chama o cara aqui para depor porque é muita coisa’ (risos). Tive que explicar que eu sou um cara comprando papel velho mesmo, mas suspeitaram que podia ser anthrax ou algo assim, mas ficou por isso mesmo e eu trouxe.

Esse custo alto foi um capricho meu para trazer as revistas já em um momento que eu podia trazer coisa de fora. Porque as revistas nacionais eu tenho mais de 3.000, mas comprei nos anos 90 a preço de nada.

Fora a Nintendo Power, tem algo mais de fora que você focou? Ou a meta era mais fazer o fullset das revistas nacionais mesmo?

Eu foquei na Nintendo Power porque eu sou nintendista. (risos) Eu tenho algumas EGM, GamePro e Famitsu, mas nada que fuja muito de ter umas 10 edições, por aí.

Mas das nacionais eu tenho o fullset de todas. Eu tenho isso porque eu cresci com meu pai me levando em sebo nos anos 1980 também. Ali eu comecei a colecionar gibi. Quando eu falo que coleciono gibi todo mundo pensa em Marvel ou DC, mas na verdade eu coleciono DuckTales, Turma do Arrepio, Pequeno Ninja, Trapalhões, Chaves, Chapolin, eu adoro.

Eu colecionava isso quando começou a aparecer revista de videogame eu vi que queria também, porque era barato.

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Imagem: Cleber Marques

No interior do estado de SP tinha uma coisa que dava para fazer: comprar revista e gibi por peso no ferro-velho.

Coisa mais linda! Você ia empilhando gibi, chegava e comprava 3kg de revista por 50 centavos. Então mesmo com pouca grana já dava para se divertir e colecionar.

A gente chegava na banca e tava lá gibi dos Trapalhões, personagens brasileiros que a gente via na televisão. E o gibi trazia Traparugas Ninjas, Didiraia, ia misturando o que a gente via na Manchete com Trapalhões, era impossível não querer comprar.

E dessas todas de videogame, qual é a sua revista nacional favorita?

Cleber Marques: Nenhuma das minhas favoritas estão na metade de 1995 para frente. Eu tenho como referência para fazer a Warpzone a Super Game Power.

revista super game power

Imagem: Cleber Marques

Quem conhece muito uma coisa se torna chato (risos). Então por exemplo, eu adoro a revista Videogame, que para mim fazia as melhores matérias. Fizeram matérias discutindo as primeiras gerações, cobrindo evento lá fora…

Quando surge a Super Game Power, da primeira edição, que completou 30 anos há pouco, abril de 1994… olha, da primeira até a edição de número 30, eu falo para você: na minha opinião de colecionador, é o estado da arte de revista no Brasil.

Eram 84 páginas, matéria da Gamepro, diagramação que para mim é referência. Logo depois veio a Gamers. Na segunda fase dela, ao menos, porque a primeira é bem sofridinha. Mas nessa segunda, quando virou semanal, nossa, e tava lá com Fabão… Pena que ela depois da edição 50 começou a ficar lotada de tradução de texto da internet, poxa.

Agora falando um pouco sobre a feira Retrocon, você acha que a demografia que curte revistas de games e a Warpzone é a mesma do evento?

Cleber Marques: A galera que apoia o nosso projeto é o mesmo público que vai para o evento, porque funciona da seguinte forma: essa pessoa hoje tem o poder aquisitivo X, e tem uma idade em que ela paga as suas contas e não precisa perguntar nada para ninguém. No máximo rola aquela piada de precisar perguntar para a esposa e é isso.

revista super metroid brasil

Imagem: Cleber Marques

É o cara que tem condição de se dar um presentinho. É um público nichado? A gente está falando de retrogaming, que é uma bolha dentro da bolha de videogame no Brasil, então sim. E ainda assim dentro dessa bolha a gente conseguiu criar algo grande que é o Retrocon, que ficou enorme.

No arredondado, foram 4.500 visitantes na primeira edição, mais de 70 expositores de todos os tipos, dois dias. Esse ano a gente espera receber ao menos o dobro de pessoas, ou que chegue ao menos próximo disso. Porque de espaço estamos com quase 6.000 metros esse ano, subimos de 2.000 para 6.000.

A gente está só esperando passar o hype da Gamescom para começar a anunciar mais novidades.

E é claro que você vai conferir todas as novidades sobre a Retrocon e projetos da Warpzone aqui no Portal do Flow Games, então fique ligado e conte aqui nos comentários o que você achou dessa entrevista com o Cleber Marques! Fonte: FlowGames


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